Fusão entre FCA e PSA dá origem à Stellantis, nova gigante do setor automotivo
Nova gigante automobilística de €42 bilhões (US$ 52 bi) reúne 14 marcas sob o mesmo teto, tornando-se a 4ª maior fabricante de veículos do mundo. Executivos celebram sinergias de €5 bilhões anuais e prometem enfrentar os desafios do mercado pós-pandemia sem fechar fábricas, enquanto especialistas alertam para a importância da integração logística.
Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e Groupe PSA oficializaram neste sábado a fusão que dará origem à Stellantis, novo conglomerado automotivo global. A união das montadoras ítalo-americana e franco-psa, iniciada em 2019, foi concluída após mais de um ano de negociações e aprovações regulatórias, criando a quarta maior empresa do setor em volume de vendas.
A Stellantis nasce reunindo 14 marcas tradicionais, de ícones europeus como Peugeot, Citroën, Opel e Fiat a marcas americanas como Jeep, Dodge, Chrysler e Ram, além da italiana Alfa Romeo e da luxuosa Maserati, que juntas representavam cerca de 9% do mercado automotivo mundial, com aproximadamente 8 milhões de veículos vendidos em 2019.
“Teremos um papel de liderança na próxima década na redefinição da mobilidade, assim como nossos pais fundadores fizeram com muita energia”,
John Elkann, presidente da FCA e novo chairman da Stellantis
Uma gigante de €165 bilhões e 400 mil funcionários
Anunciado originalmente em outubro de 2019, o acordo de fusão enfrentou o contexto adverso da pandemia em 2020, mas avançou sem grandes mudanças estruturais. No início de janeiro deste ano, os acionistas de ambas as empresas aprovaram quase por unanimidade a criação da Stellantis, com mais de 99% dos votos favoráveis nas assembleias da FCA e da PSA.
A transação, avaliada em US$52 bilhões, resultará em uma companhia com receita anual superior a €165 bilhões (com base nos resultados agregados de 2019) e cerca de 400 mil empregados no mundo todo. A sede do novo grupo será na Holanda, e as ações da Stellantis estrearão nas bolsas de Milão, Paris e Nova York.
Carlos Tavares, CEO da PSA escolhido para comandar a Stellantis, comemorou a conclusão do negócio afirmando que “estamos prontos para esta fusão”.
Mesmo com o porte de gigante, a Stellantis inicia sua trajetória atrás apenas da Volkswagen, Toyota e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi em volumes globais. Em faturamento, porém, o grupo já nasce como o terceiro maior do mundo.
Sinergias bilionárias e promessa de não fechar fábricas
Um dos principais trunfos destacados pelos executivos da Stellantis são as sinergias geradas pela combinação das operações. FCA e PSA estimam que a fusão permitirá uma redução de custos superior a €5 bilhões anuais, sem a necessidade de fechar fábricas.
Essa economia virá, principalmente, da integração de plataformas e componentes, do compartilhamento de tecnologias e dos ganhos de escala em compras e desenvolvimento.
“A fusão tem como um dos seus objetivos evitar a situação triste [de fechamento de fábricas], protegendo nossa rentabilidade por meio da diluição dessas despesas numa base de vendas muito maior”,
Carlos Tavares
Especialista: logística e integração operacional serão decisivas
Para além dos holofotes voltados à estratégia corporativa e às finanças, um fator crucial para o sucesso da fusão será a integração operacional entre FCA e PSA, com a gestão logística desempenhando papel central.
“Em fusões desse porte, a logística costuma ficar em segundo plano nas manchetes, mas é um dos pilares fundamentais para viabilizar as sinergias anunciadas”,
Sergio Alvin Catarino, especialista em logística automotiva
Segundo ele, coordenar a rede de fornecedores, fábricas, estoques e distribuição de dois grupos antes independentes requer um planejamento meticuloso.
Ele acrescenta que, no curto prazo, manter o fluxo de peças e veículos sem interrupções durante a transição é fundamental para que clientes e concessionárias não sejam afetados negativamente.
Perspectivas
Com a conclusão da fusão e a criação formal da Stellantis, o foco do mercado volta-se agora para os próximos passos desse novo gigante. Nas palavras de John Elkann, trata-se de “uma fusão histórica” que abre caminho para um futuro ambicioso.
A empresa inicia suas operações em um cenário marcado por desafios consideráveis, transformações tecnológicas, recuperação pós-pandemia e forte competição global, mas apoiada por um portfólio diversificado de marcas icônicas e pela promessa de eficiência ampliada pela escala.
Carlos Tavares e sua equipe diretiva enfrentam a missão de unificar duas organizações e entregar resultados que atendam às expectativas de acionistas e consumidores.
“Não aceitaremos ficar encurralados como dinossauros” na indústria,
Carlos Tavares
Se conseguir transformar essa união em resultados concretos, desde o sucesso em carros elétricos até ganhos de eficiência que reforcem sua saúde financeira, a Stellantis poderá se consolidar como uma potência global, pronta para redefinir a mobilidade na próxima década.